15.12.06

20 y 10 El Fuego y la palabra Segunda parte
Segunda parte do documentario!
20 y 10 El Fuego y la palabra
Esse video é a primeira parte do documentario 20 y 10 El fuego y la palabra que comemora os 20 anos da formação do EZLN e 10 do levante zapatista.

13.12.06

Revolta do Buzu

Versão editada/menor que se encontra no DVD-MPL1, do Revolta do Buzu - Salvador. De Carlos Pronzato.

4.12.06

Uma revoução com um mínimo absoluto de violência

Não são “notícias” – mas deviam ser

Hoje é domingo (8 de Outubro de 2006), Oaxaca, um belo céu limpo, solarengo, uma manhã boa para saborear um tamal [uma espécie de farinha de milho, açucarada e envolvida na própria folha da maçaroca, petisco típico do México] e um café quente ao pequeno-almoço. Desci a rua até ao Mercado Sanchez Pasques, para comprar tamales para a Nancy e para mim. O mercado estava apinhado, pessoas e cães de um lado para o outro. Lentamente atravessei a multidão, em direcção à senhora dos tamales que tem um grande balde de alumínio em cima de um braseiro. O vapor escapava-se da toalha colocada em cima da enorme caldeira, condensando no ar fresco da manhã. Uma secção interior do Mercado. Leite e seus derivados. Foto, 2006-10-08, por G.S. Sem direitos reservados. Acabei de passar pela barraca dos jornais na parte exterior do mercado. Grandes letras pretas no Noticias [1] diziam que o movimento popular já tinha rejeitado a “oferta” do governo federal, feita na quinta-feira. Já era mais do que previsível que a APPO (Assembleia Popular do Povo de Oaxaca) não iria aceitar a dita oferta. Para já, esperemos, apenas haverá continuação das ameaças (principalmente por parte do governo estadual) e a continuação das chamadas negociações, mas sem violência em larga escala. As conversações são infinitamente preferíveis ao ataque armado, apesar de não ser isso que os media corporativos desejam. Revolução sem violência. Uma ideiacuja hora parece estar a chegar. Logo após ter visitado Oaxaca pela primeira vez, em 1996, eu escrevi, referindo-me aos dois principais artigos da minha página na Internet [2], “Não tenho dúvidas de que as ideias expressas nestes dois artigos são absolutamente cruciais para a revolução social que muitos de nós tão ansiosamente esperamos conseguir (como se pode ver pelas grandes acções contra a Organização Mundial do Comércio, há umas semanas atrás). Se estas ideias prevalecerem, teremos uma revolução com um mínimo absoluto de violência.” (acrescentei o sublinhado). As verdadeiras notícias da actual luta em Oaxaca são precisamente as que os governos – Estado de Oaxaca, Federal do México, EUA e Canadá – e a grande maioria dos media corporativos – TV, rádio, jornais e revistas – estão a fazer tudo o que podem para ignorar, esconder e distorcer. Para além disso, eles mentem descaradamente sobre o que está a acontecer. As verdadeiras notícias consistem em dois factos salientes: 1) o movimento popular, que se desenvolveu após o ataque aos trabalhadores do ensino, em 14 de Junho de 2006, tornou-se uma vasta coligação de muitos grupos diferentes da sociedade Oaxaquenha; e 2), que pode ser ainda mais importante, quase todos os grupos aderentes estão fortemente empenhados numa luta não violenta baseada na desobediência civil [3]. Claro que, a desobediência civil significa “quebrar a lei”, como reclamam os perpetradores do mortífero regime de “lei e ordem” do governador estadual e do governo federal, ao mesmo tempo que se preparam para esmagar a rebelião com ataques militares e para-militares [4]. Estão mortinhos por lançar uma “operação de limpeza”, por toda a região, para “limpar” os “subversivos” que aderem e suportam a Secção 22 do Sindicato de Trabalhadores da Educação e/ou a APPO. Esta “guerra suja” estadual [refere-se ao estado de Oaxaca], de pequena escala, tornou-se um habitual modus operandi, logo a seguir à destruição feita por operacionais estaduais, das poderosas instalações de transmissão de TV e rádio ocupadas pela APPO, em Fortin Hill. E a reacção imediata da APPO, no próprio dia, foi ocupar e transmitir a partir de várias estações comerciais, ambas as acções ocorrendo no dia 21 de Agosto de 2006. Naquilo que foi uma clara tentativa de atemorizar e aterrorizar os apoiantes de APPO que estavam a fazer a segurança das estações de rádios ocupadas, agentes estaduais armados efectuaram disparos a partir de viaturas em andamento e houve espancamentos e raptos. Depois de algumas semanas, durante as quais os membros da APPO ficaram cada vez mais revoltados e determinados a persistir, e depois de ter havido reacções na imprensa contra o governo, incluindo condenações do abuso dos direitos humanos levadas a cabo por agências internacionais como a Amnistia Internacional, o governo do estado abrandou, aparentemente seguindo instruções do governo federal. A fase actual (IV) da luta Num artigo anterior [3] descrevi os primeiros três meses e meio da luta, dividindo-a em 3 fases algo arbitrárias: Fase I, a partir de 15 de Maio de 2006, o início da greve dos trabalhadores da educação, Fase II, a partir de 14 de Junho, altura em que o estado atacou o acampamento grevista, e a Fase III, a partir de 1 de Agosto, quando mulheres da APPO se apoderaram das estações de TV e rádio do estado. Com a matinal destruição das instalações de transmissão de televisão e rádio em Fortin Hill por agentes armados estaduais, a 21 de Agosto, emergiu uma situação algo diferente. Por conveniência, e mais uma vez arbitrariamente, chamarei a este período (que ainda decorre) a quarta fase da luta. Neste momento falta só uma semana para completar dois meses. As suas características principais têm sido (1) a continuação de uma baixa taxa de mortes causadas pelo conflito, provavelmente não mais de 6 até agora [5], (2) uma intensa guerra de propaganda na qual, apesar do imenso controlo dos media pelos governos e os seus aliados corporativos, grande parte da verdade sobre o conflito está a passar, (3) aparentes intermináveis sessões de “negociação” entre o governo e o movimento, sobre questões que são à partida inegociáveis, (4) um chorrilho de declarações governamentais alternando entre promessas de não utilizar a força e ameaças do uso da força (incluindo movimentação de tropas e sobrevoos de helicópteros militares na zona), com o esperado efeito psicológico na população, e (5) contínuo e aprofundado desgaste da economia dentro desse estado. Compreender a situação actual,um seguro ponto de partida. Eu acredito que não pode haver dúvidas que se as forças políticas e económicas aliadas do México estivessem confiantes que podiam lançar um ataque com sucesso para esmagar a revolta em Oaxaca, o teriam feito sem nenhum momento de hesitação. A partir deste facto (considero-o um facto, por razões que explicarei a seguir), conclui-se que se não houve esse ataque a grande escala (para além do abortivo ataque de Ruiz a 14 de Junho, feito por forças do estado), os “maiorais” na Cidade do México, têm estado, até agora, receosos que este tipo de ataque militar, provavelmente com muitas mortes e destruição, possa fazer ricochete, e têm medo de vir a perder o aparentemente ténue controlo que ainda têm. Já perceberam que toda a gente está convencida que a chamada vitória eleitoral de Felipe Calderon foi uma fraude, e eles próprios sabem que assim foi – eles sabem que André Manuel López Obrador (AMLO) foi o verdadeiro vencedor. Podemos estar certos que a eleição presidencial por resolver aumenta a hesitação da coligação dos partidos PAN e PRI [6] em agirem decisivamente contra a rebelião oaxaquenha. As pessoas sabem que a toda a superestrutura nacional desliza na profunda lama da corrupção. Apenas na base da sociedade se consegue encontrar honestidade e adesão a princípios ligados à real necessidade de uma sociedade justa e equitativa. Lá se foram as convicções. Porque é que não se podem contar as verdadeiras notícias? No centro da luta – a verdade que tem de ser escondida. Se a verdadeira natureza da actual revolta fossem bem divulgadas, não apenas no México mas em toda a América do Norte, não haveria justificação para a esmagar que encontrasse aceitação popular. Um facto é que Oaxaca foi governada quase durante 80 anos pelo PRI, que tem sido impiedoso no seu controlo, impondo uma pobreza calamitosa na maioria da população, de forma que um grupo de elite possa desfrutar de extremo poder e riqueza. O regime estadual grosseiramente injusto foi muito aliado à igualmente impiedosa estrutura de poder na Cidade do México, e com grandes interesses financeiros em países estrangeiros. O governador Ulises Ruíz Ortíz, foco de tanto ódio, é apenas uma ponta da estrutura dominante de Oaxaca. Um ser humano tão vazio de visão como de compaixão, ele é fútil na luta pelo poder dos seus antigos co-mandantes do PRI, agora alinhados com o PAN contra o PRD, servindo apenas para regatear e para desviar as atenções das exigências fundamentais do movimento popular e serve também como joguete entre o governo e o movimento popular. O primeiro raio caiu em cima dele, “Ulises ya cayó!, ya cayó!, ya cayó! [Ulises já caiu!]” gritaram e ainda gritam insistentemente milhares de gargantas. Visto como um tirano odiado, ele foi o alvo inicial óbvio. Mas os indivíduos são sempre dispensáveis se a estrutura dominante permanecer intacta. Livrarem-se simplesmente de Ulises, por si só, não vai alterar significativamente o governo de Oaxaca, assim como livrarem-se de George W. Bush, por si só, não implica uma mudança significativa na estrutura dominante dos EUA. Como eu escrevi no início de Julho, de grande impacto na sociedade, se se conseguisse atingir, seria a exigência feita inicialmente de “substituir o governo político pela Assembleia Popular, sem partidos políticos” … “O crescente apoio ao movimento para expulsar o governador Ulises Ruiz Ortiz (URO) e para modificar a forma de governo no estado de Oaxaca encorajou os participantes em a insistirem numa verdadeira mudança revolucionária a esse nível.”[7] Tal desenvolvimento seria um pesadelo para todo o sistema capitalista, potencialmente ameaçador à continuidade da sua existência, como eu argumento seguidamente. Auto-governo independente, uma ameaça ao capitalismo. Este é um ponto chave do conflito. No mundo de hoje, o sistema capitalista domina a vida no universo. Baseia-se na sua capacidade para explorar quer os recursos naturais (florestas, vento, água, etc.) quer as pessoas, para atingir o lucro material e o poder de sectores dominantes da sociedade. Está rapidamente a destruir a biosfera, da qual toda a vida depende, incluindo a vida de milhares de milhões de pessoas. Toda a gente sabe isto. Apenas são discutíveis alguns detalhes. A destruição é manifesta. Ao pedir o fim de um governo hierárquico em Oaxaca, substituindo-o por um sistema de múltiplas assembleias populares numa democracia directa, face a face, a nível local, sem partidos políticos, com um máximo de autonomia local, a APPO desafiou a estrutura do poder dominante, não apenas a reformar-se, mas a desistir totalmente do poder, do seu controlo de todo o estado. Não é preciso ser um génio para perceber que a maioria dos ricos, privilegiados e poderosos beneficiários deste injustíssimo sistema, não pode nem pensar em perder o seu estatuto especial. Vão lutar como loucos para evitar que isso aconteça. O contágio da revolta. Verdadeiros dominós! Não são apenas os oaxaquenhos privilegiados que estão ameaçados pelas exigências da APPO por uma reorganização social. Nem são apenas os mexicanos e estrangeiros que beneficiam directamente da exploração dos recursos naturais e/ou da mão-de-obra barata oaxaquenha (por exemplo, os empregadores norte-americanos de trabalhadores agrícolas oaxaquenhos). Qualquer um cuja riqueza material venha, em parte, da exploração de recursos naturais noutras partes do mundo e/ou através da exploração de mão-de-obra barata, pode ser afectado, porque se o povo de Oaxaca conseguir acabar com a sua própria exploração e da sua terra, por capitalistas e corporações mexicanas e estrangeiras, podem servir como exemplo e inspiração a outros povos. De facto, a luta aqui já tocou a imaginação de muitos mexicanos e mesmo de estrangeiros, pela extensão que as verdadeiras notícias sobre esta luta atingiram para além das fronteiras do México. Naturalmente, qualquer ameaça aos lucros, quer actual quer futura, prestes a ocorrer ou apenas hipotética, é uma preocupação urgente de todo o sistema capitalista. É o “dinheiro”. É essa a preocupação dominante. Para perceber quão dominadas pelo dinheiro estão as mentes dos capitalistas e dos que aspiram a ser capitalistas, temos de relembrar o maravilhosamente simbólico acto de Abbie Hoffman, que desde um varandim da Bolsa de Valores de Nova Iorque, despejou o conteúdo de um saco cheio de notas de dólar na zona onde se fazem as negociações o que levou a uma paragem de todas as operações, dado que os gananciosos corretores se espalharam pelo chão a tentar apanhar o maior número de dólares que conseguiam. Totalmente individualistas, cada um a tentar avidamente amealhar para si tudo o que consegue, sem pensar no bem comum. É esse valor da anti-civilização incorrectamente chamada “Civilização Ocidental”. O verdadeiro desafio é à Anti-Civilização Ocidental, substituí-la de forma não violenta por uma verdadeira civilização A luta em Oaxaca é uma jogada com a parada bem alta. Por toda a América Latina, a imposição do neo-liberalismo durante as últimas décadas trouxe uma crescente polarização severa entre os economicamente ricos e as muito mais numerosas – e a crescer – classes empobrecidas. Como no livro de Bruno Traven, “The Rebellion of the Hanged [A revolução dos enforcados]”[8], tal como em Chiapas com a revolta Zapatista maioritariamente indígena, também em Oaxaca, o estado mexicano “mais indígena”, quando finalmente a opressão se tornou grande demais para aguentar, Ya basta! – Já chega! – foi o grito, a palavra de ordem. Preferível perder a própria vida do que continuar a sofrer uma existência tão degradante. O sistema global capitalista não seria tão ameaçadoramente desafiado se fosse apenas o povo de Oaxaca – entre 3,5 e 4 milhões – e a sua terra e economia a serem excluídos do esquema capitalista de exploração de recursos naturais e pessoas. Isso seria uma perda, mas apenas uma gota no grande balde global. A ameaça à burguesia é que o movimento popular de Oaxaca sirva de exemplo de grande coragem moral por parte (neste caso) de uma população maioritariamente indígena, negociando inteligentemente a sua própria libertação da opressão, numa época de comunicação instantânea global, e fazendo-o sem ameaçar os seus adversários com a luta armada. Merecidamente, mantém de forma inquestionável uma grande elevação moral, em forte contraste com o desdenhado governador e todos os políticos interesseiros que andam à busca de uns dinheiros mal amanhados e ameaçam, com vontade de usar, a força bruta. A moeda da anti-civilização: dinheiro e força bruta. Os governos estão ansiosos por incitar uma resposta violenta por parte dos trabalhadores da educação e dos membros da APPO, porque isso legitimaria, aos olhos de muitos, um ataque militar musculado para esmagar a rebelião. Os media corporativos, em conjunto com toda a estrutura do gigante capital, que têm como principais protectores os estados, também querem que a rebelião – até ao momento determinantemente não violenta, apesar de militante – perca as estribeiras e responda violentamente aos ataques que lhe são feitos. Dentro da APPO, e talvez também na Secção 22 do Sindicato de Trabalhadores da Educação, há algumas facções que glorificam a ideia de uma “luta armada contra o estado repressivo” e provavelmente algumas cabeças mais quentes também gostariam de bater nalguns polícias, sem estarem a perceber todas as consequências de fazer um ataque às forças estatais. Felizmente, os elementos mais maduros prevalecerem neste movimento e a calamidade de uma repressão militar a grande escala tem sido evitada, pelo menos até agora. Como bem escreveu James Herdo no seu ensaio seminal, Getting Free [9], “…É impossível derrotar a nossa classe dominante pela força das armas. O nível de poder de fogo actualmente possuído pelos grandes governos, e mesmo pelos pequenos, é simplesmente espantoso. É comprado com a riqueza expropriada a milhares de milhões de pessoas. É ridículo que algum movimento de oposição pense que pode adquirir, manter, e usar armamento tão vasto e sofisticado… Seria preciso um império tão grande e rico como o próprio capitalismo para o combater com as mesmas armas. Isto é algo que as classes trabalhadoras do mundo nunca terão, nem é isso que queremos. Isto não quer dizer, no entanto, que não devemos pensar de forma estratégica, para ganhar, derrotando os nossos opressores. Significa que temos de aprender como destruí-los sem disparar um único tiro. Significa que temos de recorrer a, e inventar se necessário, outras armas, outras tácticas.” Sedentos de sangue — o sangue dos oprimidos Aliada aos governos, que pretendem esmagar a rebelião e procuram, com ataques armados dos seus agentes, incitar respostas armadas, está a vasta falange dos meios de comunicação corporativos detidos pelos mesmos capitalistas e corporações que servem o governo. Estes meios de comunicação sujeitam-nos a uma infinita torrente de mentiras, de forma a persuadirem as pessoas que os trabalhadores da educação, os aderentes da APPO e os outros grupos populares que estão a exigir uma mudança, são um monte de sórdidos descontentes que estão a quebrar a lei e a provocar violência. O propósito da sua propaganda é convencer a população em geral de que uma intervenção militar é não apenas necessária, mas mesmo desejável. Para além disso, os donos dos media estão absolutamente empenhados em manter o sistema do gigante capitalismo do qual depende a sua classe altamente privilegiada, pelo seu estatuto especial. A verdade é que a pretensão do movimento em substituir as estruturas hierárquicas de governação baseada nos partidos políticos, por assembleias populares não hierárquicas – uma multitude delas – com um máximo de autonomia local, é uma ameaça directa ao sistema capitalista. Essa é a mais profunda verdade, não o ódio a Ulises, que tem de ser abafada. É o completo sistema de valores do México Profundo [10] que se está a erguer, e não apenas no México mas em grande parte da América Latina, a rejeição do capitalismo e de todo o seu sistema de valores distorcidos, valores estes que ditam a supremacia do dinheiro sobre a própria vida. Esta é a verdade que ameaça atingir esses beneficiários do gigante capitalismo. É por isso que estão determinados a omiti-la. Muitas pessoas que confiam nos meios de comunicação em massa para obterem a sua informação sobre as notícias do mundo, irão opor-se a esta minha condenação dos media corporativos. Irão sublinhar, correctamente, que muito do que vêm nesses meios de comunicação é verdade. Mas isso não invalida a minha crítica. Há uma recusa invariável em fornecer toda a verdade, e fazê-lo na altura certa, para que os “factóides” que noticiam possam ser compreendidos dentro do contexto. Muitas vezes é possível afirmar meias verdades sem ameaçar ninguém nos sectores dominantes da sociedade, e de facto, estas verdades parciais, factóides fora do contexto, podem beneficiá-los. Considerem, por exemplo, o actual conflito entre o movimento de massas em Oaxaca e os governos federal e estadual. Há repetidas alegações governamentais de que a rebelião está a ser apoiada por grupos guerrilheiros armados. Tão dramáticas afirmações são largamente divulgadas pelos media corporativos, quer no México quer no estrangeiro. A meia verdade em que se baseiam estas notícias é que no estado de Oaxaca existem, tenho quase a certeza, elementos de alguns grupos armados de guerrilha – estou a lembrar-me do Exército Popular Revolucionário [11]. A mentira, por vezes explícita, é que é feita uma ligação deliberada entre a luta cívica da APPO e dos trabalhadores da educação com formações revolucionárias armadas. É mais chamativo imaginar um grupo ao estilo do Che Guevera, atacando agentes do estado com armas letais, do que observar um grupo de professores, sentados numa assembleia, a discutir resoluções. Iniciativa de Cidadãos, Diálogo para a paz, democracia e justiça em Oaxaca. Foto, 2006-10-12, por G.S. Sem direitos reservados. Os incidentes violentos, apesar do seu baixo número, como se verifica pelo pequeno número de feridos e das extremamente poucas baixas mortais em cinco meses, são apregoados pelos media como “confrontos armados”. De facto, este é um grave engano, sugerindo como sugere que há um confronto entre dois ou mais lados equivalentemente armados. Mas são só os agentes governamentais, quer de uniforme quer sem uniforme, que andam armados. Estes mercenários enfrentam os professores e outros membros da sociedade civil, que estão “armados”, quando muito, com paus, bastões, pedras e – ocasionalmente – alguns com machetes (uma arma letal em combates corpo a corpo, mas nada que se compare com pistolas automáticas ou armas semi-automáticas da polícia e dos paramilitares). Paz — ou — banho de sangue? Eu acredito que ninguém pode, nesta altura, prever o desfecho desta luta popular. Por um lado, como argumentei anteriormente, o nível é potencialmente alto sobre o que está em jogo a larga escala para o sector capitalista. Por outro lado, um entendimento negociado que deixe o sistema político tradicional de Oaxaca basicamente intacto, independentemente das promessas que sejam feitas sobre a introdução de “medidas de protecção” dos direitos humanos e outros, irá seguramente implicar a continuação de um regime de grande injustiça económica para a maioria, forçado com assassinatos, corrupção, detenções políticas e tortura, com impunidade para os agentes do estado que efectuem essa opressão. Especialmente, os indivíduos mais proeminentes da APPO, da secção 22 do Sindicato de Trabalhadores da Educação, ou outros grupos aliados, verão imediatamente a sua vida posta em risco. À medida que entrava no solarengo Mercado Sanchez Pasques e absorvia com os olhos e ouvidos as animadas conversas dos clientes e dos vendedores, crianças divertindo-se com pequenos brinquedos, a vida do mercado, a vida das pessoas, pensava noutros mercados, em como as pessoas comuns continuam as suas vidas na normalidade, dia após dia, outras pessoas em Sarajevo, Beirute, Bagdade. Só podemos desejar que a confluência de forças sociais e de consciências em Oaxaca, no México e no mundo, seja tal que não haja um banho de sangue, nem grande nem pequeno, e que um verdadeiro milagre mexicano comece a mostrar ao mundo como passar da anti-civilização da morte para uma verdadeira civilização de vida. NOTAS [1] - O Noticias, o melhor jornal diário da cidade de Oaxaca. . A sua edição on-line, em http://www.noticias-oax.com.mx/index.php , está por vezes atrasada um dia em relação à edição impressa.. [2] - Os dois artigos são referidos na minha nota, “Encontrando o Ouro: A génese deste projecto de ‘estratégia de revolução’”, que se encontra em http://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/1996-08-30.htm . [3] – A luta não violenta. Um relato dos primeiros 3 meses e meio pode ser visto em http://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/2006-08-29.htm . [4] – Sobre a preparação do esmagamento da rebelião à força, vejam a minha tradução do relato do La Jornada de 7 de Outubro de 2006, “APPO revela que Ulises Ruiz Ortiz já tem os planos para uma nova operação repressiva”, que está em http://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/2006-10-09.htm . [5] – Taxa de fatalidades extremamente baixas. Esta taxa, de cerca de 6 nos cinco meses desde que começou a greve, tem de ser comparada com a taxa “normal” do estado de Oaxaca nos anos anteriores, quando alguns professores de comunidades remotas da cidade de Oaxaca, que “arranjavam problemas” à estrutura local de poder, se viam sujeitos a assassinatos por caciques ou agentes contratados por eles. A enorme brutalidade e a falta de registos do governo do PRI em Oaxaca (e no país) são exemplificadas num artigo com fotografias publicado a 23 de Março de 2006 no jornal Noticias, p.10A. A 27 de Julho de 2004, o ex professor do ensino básico de Huautla, Serafín García Contreras, 64 anos, foi espancado até à morte por Jacinto Pineda e outro homem. Pineda foi dirigente do grupo do PRI, Movimiento Territorial, em Huautla. Uma fotografia mostra-o a envergar um grande pau contra o idoso caído no chão, ainda vivo. Uma segunda fotografia, tirada pouco tempo depois, mostra Pineda com a sua camisa carregada de suor. A 22 de Junho de 2006, Roberto Madrazo, candidato do PRI à presidência federal fez campanha em Huautla. Pineda fez a segurança à visita de Madrazo. Também envolvido no evento de Huautla esteve o “deputado federal Elpidio Concha, principal instigador do espancamento de elementos da Frente Único Huautleco, da qual Serafín fazia parte.” Uma terceira imagem mostra Pineda numa camisa branca limpa. A legenda da fotografia diz que Pineda abraçou Madrazo em frente do anterior procurador, que por agora, apesar das tais fotografias, considera que não há bases para a acusação de homicídio. [6] – PAN corresponde a Partido de Acção Nacional, o partido de direita do presidente Vicente Fox e Felipe Calderon. PRI quer dizer Partido Revolucionário Institucional, um partido de direita que governou o México durante quase oito décadas, até à vitória do presidencial do PAN, em 2000. [7] – As citações das exigências de mudança da forma de governo do estado são do primeiro artigo da lista seguinte. Os outros pontos estão ligados directa ou indirectamente ao primeiro. (1) “At a cusp in human affairs: the struggle for human dignity in Oaxaca, a southern state of Mexico” athttp://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/2006-07-07.htm , (2) “A few of many strands in the struggle for life with dignity: Palestine and Oaxaca, and now Lebanon, and . . .” athttp://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/2006-07-27.htm , (3) “Incipient Revolution in Oaxaca” athttp://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/2006-08-29.htm , (4) “In Oaxaca the Revolution isn’t just schlepping along, it’s in full-tilt” athttp://pwgd.org/gs/category/on-the-ground/ , (5) “Building a Oaxaca information and solidarity communication network” athttp://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/2006-09-09.htm , (6) “A general loss of fear, an e-mail to my entire “large” list” athttp://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/2006-09-11.htm and (7) “Oaxaca City, a ‘dangerous destination’ – ‘in the grip of anarchy’” athttp://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/2006-09-17.htm . [8] - The Rebellion of the Hanged, por Bruno Traven, Allison & Busby Ltd., London 1984. [9] - Getting Free: A sketch of an association of democratic, autonomous neighborhoods and how to create it, por James Herod, em http://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/GetFre/index.htm . [10] - México Profundo: Una Civilización Negada, por Guillermo Bonfil Batalla, Grijalbo, Mexico City, 1989. Traduzido para Inglês como México Profundo: Reclaiming a Civilization, por Philip A. Dennis, Univ of Texas Press, Austin, 1996. Não sei porque é que “negada” por substituído por “relclaiming [reclamando]. [11] – O Exército Popular Revolucionário (EPR), um grupo armado de guerrilha que apareceu na noite e manha de 28-29 de Agosto de 1996 nos estados de Oaxaca, Guerrero, Mexico, Chiapas, Tabasco e Guanajuato. Alguns oficiais foram assassinados. Texto de publicado em http://site.www.umb.edu/faculty/salzman_g/Strate/2006-10-13.htm a 13 de Outubro de 2006 e traduzido por Alexandre Leite.

28.10.06

BREVE HISTÓRICO DE PAU DA LIMA

FUNDAÇÂO
Por volta de 1880 Pau da Lima era uma fazenda de aproximadamente 200 tarefas. Depois que foi comprada pelo Sr. Alexandre Vicente Ferreira, pelo valor de Cr$ 300.000,00 (trezentos contos de reis), moeda corrente da época, passou a ter como atividades principais o cultivo da mandioca e cana de açúcar e a produção de carvão e madeira. Os produtos dali originados eram comercializados entre as padarias e mercearias da cidade de Salvador.
Em 1955 a fazenda Pau da Lima foi dividida em cinco sítios denominados São Marcos, São Jorge, Santo Antônio e Senhor do Bonfim, os quais foram herdados pelos filhos. Com o desenvolvimento de Salvador e consequente crescimento populacional, aumentando a densidade demográfica da periferia e valorizando o preço das terras, os filhos começaram a lotear estes sítios e as ruas que hoje conhecemos como Celina Ferreira, Agda Ferreira, São Domingos e São Marcos, entre outras, tem estes nomes em homenagem a eles.
DESENVOLVIMENTO
O comércio dessa época era pequeno, composto apenas por algumas mercearias que foram surgindo. Não haviam meios de transporte públicos. Cavalos? Só para ricos. Quem não tinha ia andando mesmo. Em 1956 surgiu a MARINET, que se tornou, então, o unico meio de transporte público do bairro. Para Chegar ao centro da cidade era necessário andar até a "Tabela", de lá pegar este tipo de condução, que se chamava João Expresso e levava até o bairro de Campinas de Pirajá, onde havia a antiga Estação Rodoviária de Salvador. Lá era necessário pegar outra que seguia para o centro da cidade.
A Primeira escola pública instalada no bairro foi a Emília Araújo, atualmente Daniel Lisboa, onde passou a funcionar também o primeiro posto de saúde. As proximas escolas a surgirem foram primeiro Alan Kardeck e depois Roberto Corrêa e Manuel de Abreu. As primeiras igrejas foram a Católica Nossa Senhora Auxiliadora e a Evangélica Assembléia de Deus, que até hoje permanecem no bairro.
Atualmente o bairro possui uma infra-estrutura quase completa, com apenas algumas carências, dispondo de um comércio bastante variado e que supre as principais necessidades de consumo e subsistência de seus moradores. É também uma das vias de acesso de outros bairros ao centro da cidade e tem como principalponto de referência o LARGO DE PAU DA LIMA.
Texto retirado do extinto site da AMPLI, www.paudalima.com.br/historia.htm

16.9.06

Nota Publica aos Alunos e Alunas do Colegio Estadual David Mendes Pereira

Caros alunos:
Tendo em vista os atuais problemas que os alunos do David Mendes vêm sofrendo para a realização da gincana e da reconstrução do grêmio a Frente de Libertação Comunitária - Antônio Conselheiro (FLC-AC) vem a publico declara apoio aos alunos e alunas da CEDMP e se declara disposto á ajudar os alunos na imediata volta á normalidade da atuação e liberdade estudantil nesse centro de educação. Deixamos de antemão os exemplos dos Estudantes secundaristas e primárias do Chile que ocuparam várias escolas nesse país devido a uma politica de capitalização do ensino publico e também os exemplos dos alunos universitários do Brasil que tem como únicas formas de luta e resistência a greve dos estudantes ou ocupações de campus.

Temos o conhecimento dos limites que os citados alunos têm em se mobilizarem mais efetivamente nessa luta que não é apenas uma luta dos estudantes ou ex-estudantes do colégio, mais sim de toda a comunidade. Comunidade essa que não pode ficar de braços cruzados em quanto medidas reacionárias são tomadas por parte da direção do CEDMP. Fala-se muito em Escola democrática e livre, com a participação efetiva dos alunos e da comunidade na construção do conhecimento escola, porém, medidas como essas só servem para mostrarem a imensa lacuna que existe entre a legislação, no caso da educação a sua maior lei e a LDB (lei 9394/96), que mesmo sendo uma lei a serviço do neoliberalismo tem os seus ganhos, e a pratica no cotidiano escolar. É por isso que a FLC-AC vem a publico expressar o seu total apoio à causa dos alunos do Colégio Estadual David Mendes Pereira, que estão vendo os seus direitos raptados por forças reacionárias. Diz o Titulo II da LDB, nos seu artigo terceiro que:

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;

IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

VII - valorização do profissional da educação escolar;

VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade;

X - valorização da experiência extra-escolar;

XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Porém o que vemos no CEDMP é a falta de compromisso para com esses princípios, isso para nós é o reflexo de um movimento mais amplo de desmoralização das instituições publicas por parte dos falsos representantes dos interesses sociais, dos sanguessugas, mensaleiros e demais lacaios do povo, aqueles que outrora se diziam representantes da transformação e que hoje se vendem ao arrogante poder do capital, que perto do povo gritam e profetizam mentiras, mais que se calam diante do histérico grito burguês.São esses os exemplos que estão dando em nossas escolas e universidades, são essas as nossas inspiração para a revolta.

LUTAR PARA MARCAR, LUTAR PRA VIVER...

...LUTAR OU MORRER, MAS NUNCA CEDER.

Frente de Libertação Comunitária – Antônio Conselheiro

Poder popular!

16 de setembro de 2006

12.8.06

Reorganização: Uma necessidade anarquista.

Já tem logo tempo que o movimento anarquista vem sofrendo uma profunda crise, tanto teórica, quanto prática e em meio a grandes mudanças no seio da sociedade capitalista, os seus militantes agem, não como no século XIX ou meados do XX, más como se estivessem com medo de se mostrarem diante da sociedade e quando, nas raras oportunidades em que, eles resolvem saírem de suas tocas, é para ou repetirem velhas formulas ou se somarem as massas (principalmente no meio estudantil) em momentos de manifestações e revoltas, e mesmo assim sem conseguirem manifestar uma voz atuante.
O erro do anarquismo0 já começa ao conceber a revolução como algo a ser conquistado pelo povo sem uma intermediação vanguardista. A chamada "espontaneidade revolucionária", tão cultuada pelos diversos círculos anarquistas, na verdade nunca passaram de falácias ingênuas. A própria guerra civil espanhola, principal momento do movimento anarquista, não foi pura e simplesmente uma luta que surgiu sem mais nem menos na Espanha apenas para impedir um golpe de Estado, e sem liderança vanguardista. Ao contrário, ela foi fruto de anos de conscientização da população e teve como organizações de vanguarda, principalmente, a CNT-FAI e a UGT (marxista).
Um outro grave erro do movimento anarquista (e que é bastante forte atualmente) é a enorme dispersão e falta de diálogo entre os diferentes grupos e militantes anarquistas, criando assim uma grande dificuldade em organizarem grandes atos. Sem falar que não existem, pelo menos grandes, movimentos sociais de orientação libertária. Todos os grandes movimentos sociais, a exemplo do MST e dos Sem-Tetos, são de cunho socialista.
Aliais, o socialismo como alternativa ao capitalismo, soube muito bem como se atualizar, organizar e ser mais influente.
É por tanto necessário que o anarquismo readquira seu espírito indomável de liberdade, aquela mesma forma que resistiu bravamente durante a guerra civil espanhola e que hoje se encontra esquecida pela falta de garra, valentia e principalmente de espírito insurrecto dos atuais anarquistas, que acham que o principal ambiente de combate seja o mundo virtual da internet. Esquecem eles que o nosso principal meio de atuação é a periferia, as favelas e zonas rurais, as casas de barro e de madeira e lona, locais em que a crueza satânica do capitalismo se manifesta em sua forma mais criminosa. É nesses locais onde devemos divulgar nossas idéias, nos aglomerar em movimentos comunitários, sociais ou camponeses, luta realmente por uma transformação.
O neoanarquismo não é uma opção, é uma necessidade do anarquismo frente as mudanças em todas as instâncias do capitalismo.
Muitos anarquistas criticam os socialistas sem no entanto olharem para eles mesmos. Apesar do caráter autoritário de certos setores socialistas, o socialismo conseguiu realmente ser uma opção concreta diante do capitalismo. Nesse começo de século e milênio, por exemplo, estamos vivenciando o que muitos dizem ser "um novo perigo vermelho", isso vem comprovar que o socialismo soube se atualizar, ao contrario do anarquismo que apenas ensaiou o seu "perigo" negro.
Como podemos constatar a estagnação anarquista não é apenas ideológica, mais também prática. O medo de seus militantes em se mostrarem, sem que seja necessária a mobilização de outros setores da sociedade, é um caso a ser refletido, sem dogmatismo, pelos anarquistas.
O movimento anarquista contemporâneo, com as devidas exceções, antes de tudo, se tornou um movimento oportunista, uma espécie de maria-vai-com-as-outras. Alem disso, ele também se tornou em uma espécie de movimento humanitário, não é difícil entrarmos em sites, grupos de discussões, comunidades e demais meios de informações e interações anarquistas que não prestem solidariedade ao povo tal, trabalhadores Sicranos, organizações Fulanas, movimentos beltranos e etc. Não que prestar solidariedade seja desnecessário, mais não pode ser substituída pela tão cultuada "ação direta".
É por tudo isso, e outras mais que não foram citadas, que o movimento anarquista deve ser repensada com o cérebro contemporâneo, com as reais necessidades libertárias para enfrentar a sociedade burguesa. Não apenas pelo voto nulo, que em nada ajuda para o desmantelamento do modo de produção capitalista, más através de uma luta mais frontal, imediata e revolucionaria que ao menos retorne a ameaçar o sistema vigente. Nós anarquistas devemos se juntar e criarmos nossos próprios movimentos, associações, grupos e todos os meios de aglomeração necessários para agimos conjuntamente contra, em primeira instancia, a sociedade burguesa rural e urbana.
Rumo ao neoanarquismo, já!

5.8.06

O exemplo do México ao Brasil.

Em vários paises da america-latina o ano de 2006 é basicamente um ano eleitoral. No Brasil e no México não é deferente, milhões são gastos em campanhas em quando que a maioria da população passa necessidade. E como não poderia ser diferente a população desses países, cansadas do jogo eleitoral e das constantes denuncias de falcatrua envolvendo os seus "governantes", sem falar das traições ideológicas por eles promovidas, demonstram o seu descontentamento nas urnas

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Porem, as diferentes formas em que esse descontentamento é mostrado nesses países, reflete o nível de engajamento político, social e ideológico entre a população desses países. No México, onde um dos candidatos é de certa forma alinhado com o socialismo bolivariano da Venezuela, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) lidera um movimento alternativo a campanhas eleitorais. Denominado pelo próprio EZLN de "A outra campanha", esse movimento visa criar uma unificação entre os diferentes segmentos da esquerda revolucionaria e juntos formularem um plano de luta nacional e tem grande apoio dos anarquistas mexicanos. Um dos lemas da outra campanha é "não voto e não me calo", o que mostra o caráter extremamente radical e até mesmo anárquico da outra campanha.

No Brasil, diferentemente do México, a campanha alternativa às oficiais é basicamente a campanha pelo voto nulo. Campanha que até agora não teve forte aderência das massas, já no México a aderência à outra campanha é muito grande. Um outro aspecto de diferença é o fato de que as aderências a outra campanha é muito mais ideológica do que a da campanha do voto nulo, que é fruto principalmente do desencanto e insatisfação causadas pelos sucessivos casos de roubos e bandidagem do governo petista. Ao contrário da campanha pelo voto nulo, que no Maximo se limitou a pequenos shows punks, raras panfletagens e principalmente divulgações pela internet (num país em que poucos têm acesso de maneira ampla a mesma), a outra campanha teve como principal de divulgação uma grande comitiva que percorreu vários estados mexicanos, realizando vários eventos, passeadas e manifestações.

Como não poderia ser diferente, as respostas dadas nesses países pelas "autoridades" também não foram iguais. No Brasil essas respostas se limitaram a campanhas da mídia, e em parte do governo e parlamentares, contra o voto nulo. Já no México as respostas dadas foram grandes repressões policiais, e até mesmo militares, onde não raramente ocorriam confrontos entre as partes, inclusive com cenas de sublevação popular e violência policial, como no caso de San Salvador Atenco.

Más sem sombras de duvida, a principal diferença entre a campanha do voto nulo e a outra campanha é o fato de que, ao contrario da campanha do voto nulo, a outra campanha possui um projeto para alem das eleições. São esses, entre outros fatos, que nos demonstram que o principal caminho a ser tomado pela extrema esquerda revolucionaria brasileira (anarquistas e socialistas revolucionários) é o mesmo do digno povo mexicano, onde a consciência de classe e transformação é superior ao nosso. Não apenas a consciência do povo mexicano, mais também o da maioria dos povos latino-americanos, o que demonstram o quando nosso povo está apático e conformado com as condições sociais existentes. Um povo realmente sem mobilização e senso de união classista. Um povo entre os povos latino-americanos, sem inclinações insurrectas.

Temos que começamos urgentemente a criar essa consciência revolucionaria no povo brasileiro, a partir, principalmente, das introduções amplas das ideologias revolucionarias nas classes menos favorecidas. Temos que criar um diálogo mais amplo entre os setores de esquerda antiimperialistas e anticapitalistas. Formar urgentemente um plano de transformação, onde a diversidade seja respeitada, para assim enfrentamos o sistema burguês que sem duvida é o principal inimigo da maioria da população (ainda que poucos tenham noção disso) ao invés de anarquistas e socialistas se combaterem em quando que a sociedade capitalista se fortalece.

4.8.06

Liberalismo: o anarquismo burguês.

Como muitos sabem o liberalismo busca á não intervenção do Estado na economia, porem o que poucos sabem é seu lado "anárquico". O liberalismo, assim como o anarquismo, busca a eliminação do Estado, sendo assim não fica difícil de compreender quando teóricos liberais pregam o fim do Estado.
Segundo Noberto Bobbio "há uma acepção prevalecente na tradição liberal - segundo a qual "liberdade" e "poder" são dois termos antitéticos, que denotam duas realidades em constaste entre si e são, por tento, incompatíveis: nas ralações entre duas pessoas, à medida que se estende o poder (poder de comandar ou de impedir) de uma diminui a liberdade em sentido negativo da outra e, vice-versa, à medida que a segunda amplia a sua esfera de liberdade diminui o poder da primeira". Essa acepção de liberdade pelo liberalismo não é distante daquela dos movimentos libertários, o anarquismo prega o fim do Estado e de toda forma de opressão e nesse sentido Noberto Bobbio diz que "no pensamento liberal, teoria do controle do poder e teoria de limitação das tarefas do Estado procedem no mesmo passo: pode-se até mesmo dizer que a segunda é a conditio sine qua non da primeira, no sentido de que o controle dos abusos do poder é tanto mais fácil quanto mais restrito é o âmbito em que o Estado pode estender a própria intervenção, ou mais breve e simplesmente no sentido de que o Estado mínimo é mais controlável do que o Estado maximo".
Sendo assim, não fica difícil de entender quando Wilhelm Von Humboldt, um dos teóricos do liberalismo, diz que "o Homem verdadeiramente razoável não pode desejar outro Estado que não aquele no qual cada indivíduo possa gozar da mais ilimitada liberdade de desenvolver a si mesmo, em sua singularidade inconfundível, e a natureza física não receba das mãos do Homem outra forma que não a que cada indivíduo, na medida de suas carências e inclinações, a ela pode dar por seu livre-arbítrio, com as únicas restrições que derivam dos limites de suas forças e de seus direitos".
Porem é aí que param as comparações entre liberalismo e anarquismo. O liberalismo não quer o desmoronamento total do Estado e sim a diminuição de suas funções, ela não luta por uma sociedade sem classes e sim que continuem existindo as diferenças sociais, a liberdade liberal se refere apenas a liberdade individuo-Estado, ao contrario do anarquismo que busca uma liberdade totalizante. Para os liberais o governo é um mal necessário, que como dize Adam Smith, tem apenas três deveres: a defesa da sociedade contra os inimigos externos, a proteção de todo indivíduo das ofensas que a ele possam dirigir os outros indivíduos e o provimento das obras publica. Já para o anarquismo o governo é uma usurpação das liberdades do individuo, uma ferramenta da divisão social e um ser opressor que precisa ser combatido.
REFERÊNCIA:
Bobbio, Noberto, Liberdade contra poder, in Liberalismo e Democracia; tradução Marcos Aurelio Nogueira, São Paulo, Ed. Brasiliense, 2000 6 ed. pags. 20-25.

2.8.06

O voto nulo e o anarquismo

Nos últimos meses estamos presenciando uma das maiores campanhas em favor do foto nulo que o Brasil já viveu. É bem verdade que muitas das pessoas que aderiram ao voto nulo sequer leram sobre o anarquismo, porem vários setores do movimento anarquista estão em êxtase com a situação. A falta de ligação de bõa parte dos militantes do voto nulo e os ideais anarquistas são em parte culpa do próprio movimento libertário que não soube como tira vantagens da situação política no país. Uma outra falha do movimento anarquista é o de não ter elaborado um projeto para além das eleições. O que adianta que grandes partes dos brasileiros votem nulo se a situação social no país não irá mudar? Será que os políticos se preocupam se o voto nulo demonstrará ou não a indignação da população? Será que os corruptos pagarão pelos seus crimes? Digamos que 50% mais 1 da população brasileira votem nulo, o que acontecerá? Uma nova eleição, com outros nomes ainda mais sujos e desconhecidos. A questão não é o voto nulo e sim o que fazer depois dele! É necessário que o movimento anarquista brasileiro comece urgentemente a pensar um projeto revolucionário para além do voto nulo. O que estamos presenciando nos poucos discursos anarquistas são as velhas teorias, sem os reais problemas e desafios contemporâneos, isso com certeza é fruto de um espírito anárquico tradicionalista que só será rompido por um pensamento neoanarquista. Votar ou não nulo é a mesma coisa se ambos não representarem de fato uma mudança nas estruturas e relações de poder e econômica.