24.2.07

O que é o Trotskismo?

Alicia Sagra – FOS-Argentina/ LIT-QI
A luta encabeçada por Trotsky, foi derrotada mas ao longo dela, se foi criando uma corrente que se foi organizando em diferentes países, e que em 1938 deu o grande passo de fundar a Quarta Internacional. A intenção era ocupar o vazio que havia deixado a Terceira, o grande partido mundial dirigido por Lenin que com a burocratização de Stálin, havia perdido seu caráter revolucionário. Assim surgiu o Trotskismo.
O que defende o Trotskismo?
O Trotskismo sintetiza a experiência da revolução russa, dos primeiros anos do governo operário e da luta contra a burocracia. Suas principais definições são as seguintes: 1) A Teoria da Revolução Permanente, que considera que a única forma de resolver as tarefas democráticas é com a revolução e o poder operário, defende a combinação das tarefas democráticas com as socialistas e a necessidade (pelo caráter mundial da economia) de que essa revolução se resolva na esfera internacional. Isto significa que para solucionar as grandes necessidades dos trabalhadores e do país (acabar com a fome e a insegurança, garantir trabalho, educação e saúde para todos, resolver os problema da terra, libertar-se do Imperialismo e recuperar a soberania nacional) os trabalhadores têm que tomar o poder, expropriar o Capitalismo e enfrentar o Imperialismo co o desenvolvimento da Revolução Internacional.
2) O método do Programa de Transição, que defende que os revolucionários, devem participar da luta cotidiana dos trabalhadores, dos estudantes e de todos os explorados e oprimidos, para ajuda-los a encontrar um sistema de palavras de ordem que encaminhem suas lutas atuais (trabalho, aumento de salário, defesa da educação, etc) até a perspectiva da luta pelo poder.
3) A crise da Humanidade é a crise de sua direção revolucionária. Quer dizer com isto que haverá cada vez mais fome, morte e destruição e isto tem a ver com a falta de uma direção mundial que oriente as lutas das massas exploradas em direção a destruição do Imperialismo e ao triunfo da revolução operária e socialista. Por este motivo não há tarefa mais importante que a construção de partidos revolucionários nacionais e do partido operário revolucionário mundial.
4) Nada do que foi dito anteriormente se pode fazer sem desenvolver uma luta de morte contra a burocracia e a defesa da democracia operária nos sindicatos e todas as organizações de lutas e dos estados operários que voltem a ser construídos quando os operários tomarem o poder.
Se todos defendem o mesmo, por que há tantos partidos e grupos que se dizem trotskistas?
Essa grande divisão se originou da marginalidade a que os trotskistas foram condenados. A Quarta Internacional nunca pode se transformar em uma grande organização de massas.
O assassinato de Trotsky (a dois anos de sua fundação) teve graves conseqüências. Ele era o último elo que unia os militantes da época com a tradição revolucionária de 1917. Toda essa experiência desapareceu com seu assassinato.
A Quarta Internacional sem o seu principal dirigente, teve que enfrentar a perseguição combinada do Nazismo e do Stalinismo e saiu da IIª Guerra Mundial com suas fileiras muito reduzidas.
A nova direção (jovem e inexperiente) cometeu grandes erros (alguns deles muito graves) que levaram a sua desintegração e a dispersão do Trotskismo.
Por outro lado o Stalinismo que, a frente da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), saiu fortalecido da guerra, aparecia ante os trabalhadores como os construtores do Socialismo e difundia mundialmente uma grande campanha de calúnias contra os trotskistas, o que aprofundava esse processo de dispersão.
Mas agora se descobriu a mentira do Stalinismo e os trotskistas dirigem sindicatos, organizações piqueteiras, organizações estudantis, mas igualmente continuam divididos...
Em alguns casos isto tem a ver com o sectarismo do passado e há que fazer todo o possível para superá-lo. Mas não nos parece ser esta a explicação central.
Para nós o central é que as décadas de domínio stalinista, combinada com a confusão provocada pela queda do Muro de Berlin (coisa que discutiremos em próximos números) e a permanente campanha do Imperialismo sobre a "toda poderosa Democracia", tem incidido sobre as principais organizações trotskistas.
O resultado é que, ao contrário do que indica o programa trotskista, pouco a pouco vão privilegiando as atividades eleitorais.
Um bom exemplo temos na política que desenvolveu a grande maioria da esquerda (incluindo a que se reivindica trotskista) no meio do processo revolucionário que se abriu em 19 e 20 de dezembro de 2001 na Argentina: centraram sua política no chamado a eleições presidenciais ou a eleições de Assembléia Constituinte.
O mesmo se viu na Bolívia em outubro de 2003: uma impressionante revolução operária e popular e a maioria da esquerda latino-americana (incluídas as principais organizações trotskistas argentinas) propondo eleições a Constituinte como saída.
Estas definições políticas fazem com que a lógica eleitoral se imponha sobre a lógica da luta. Assim se impõe a divisão e não a unidade. Por isto, para os que defendem a lógica eleitoral, o importante não é como lograr a maior mobilização unitária contra o governo e o Imperialismo, mas sim quem leva mais gente e quem encabeça a marcha. A grande preocupação não é como organizar conjuntamente a defesa ante a possíveis ataques da repressão, mas sim que os paus sejam usados para dividir ferreamente as colunas e inclusive impor-se sobre as outras organizações na luta por uma melhor localização.
O mesmo vemos no meio sindical, onde os que defendem a lógica eleitoral, impõem o aparatismo e a autoproclamaçã o, seja na luta pelos cargos ou na política liquidacionista de destruir o que não pode controlar. A autoproclamaçã o chega ao absurdo do caso do PO (Partido Operário, equivalente do PCO brasileiro) que sem vergonha não só proclamam que já é o partido revolucionário da Argentina, mas sim que já se assumem sozinhos como a Quarta Internacional.
Não é este o Trotskismo com que nós nos identificamos.
O Trotskismo tem a ver com a luta pelo poder operário e não com saídas burguesas frente às revoluções.
O Trotskismo é sinónimo de democracia operária e não de imposições burocráticas e separatistas.
O Trotskismo tem a ver com o impulso a maior unidade de ação para enfrentar ao governo e ao Imperialismo e com a maior amplitude para construir os organismos de massas e não com a criação de "currais" que dividem a luta.
O Trotskismo nada tem a ver com a autoproclamaçã o sectária dos que consideram ser já a Quarta Internacional, mas sim com a busca paciente (não só entre trotskistas) dos acordos políticos, programáticos e metodológicos que permitem avançar na construção da direção revolucionária, com a qual se possa resolver a crise da Humanidade.